Pois bem. Há alguns dias atrás nosso blog fez uma breve introdução sobre o tema do anarquismo, um tema que até hoje, mesmo após sua criação científica formulada há quase 200 anos, ainda encontra uma série de obstáculos e, muito devido ao seu conteúdo, é combatido pela elite social que tem o monopólio do poder em nossa sociedade. Mas dessa vez não viemos com teorias e sim a prática. Apresento a cidade de Christiania, a prova que a anarquia é possível.
OBSERVAÇÃO: Provavelmente você nunca ouviu falar dessa cidade, nos livros de história, documentários, filmes e etc. Realmente não é de interesse da mídia e das forças que a compõe mostrar que existe uma forma eficaz de lutar contra o sistema social e econômico vigente.
Christiania: A Lenda da Liberdade No coração gelado do capitalismo europeu, na fria Copenhagen, Dinamarca, uma comunidade de 10 mil pessoas vive num outro compasso. Cristiania não tem prefeito, não tem eleição e funciona sem governo, sem imposição de leis que controlem a organização social. A lenda da cidade-livre da Dinamarca é real: inspirada no Anarquismo, Christiania resiste há mais de 20 anos, inventando um jeito novo de conviver com os problemas da vida comunitária. Limpeza das ruas, rede de esgoto, manutenção dos serviços básicos, tudo é decidido e feito a partir de reuniões entre os moradores da cidade.
Eles se definem como uma comunidade ecologicamente orientada, com uma economia discreta e muita autogestão, sem hierarquia estabelecida e o máximo de liberdade e poder para o indivíduo. Uma verdadeira democracia popular direta, onde o bom senso e o diálogo substituem as leis. No Brasil, poucos conhecem a história da cidade-livre.
Christiania começou a escrever sua
história em 1971. Foi a partir das idéias de um jornal alternativo, o
Head Magazine, que um grupo de pessoas, de idades e classes sociais
variadas, decidiu ocupar os barracos de uma área militar desativada na
periferia de Copenhagen. Era o início de uma luta incansável contra o
Estado. A polícia tentou várias vezes expulsar os invasores da área, mas
sem sucesso. Christiania virou um problema político, sendo discutida no
parlamento dinamarquês. A primeira vitória veio com o reconhecimento da
cidade-livre como um “experimento social”, em troca do pagamento das
contas de luz e água, até então a cargo dos militares, proprietários da
área. O Parlamento decidiu que o experimento Christiania continuaria até
a conclusão de um concurso público destinado a encontrar usos para a
área ocupada.
Em 73 houve troca de governo na
Dinamarca e a situação de radicalizou: o plano agora era expulsar todos e
fechar o local. O governo decretou que a área seria esvaziada até o dia
1º de abril de 1976. Na última hora, o Parlamento decidiu adiar o
fechamento de Christiania. A população da cidade-livre tinha se
mobilizado para o confronto com o Estado, mas a guerra não aconteceu. O
dia 1º de abril tornou-se o dia de uma grande manifestação da Dinamarca
Alternativa. Ao longo dos anos, a cidade-livre aprimorou sua autogestão:
casa comunitária de banhos, creche e jardim de infância, coleta e
reciclagem de lixo; equipes de ferreiros para fazer aquecedores a lenha
de barris velhos, lojas e fábricas comunitárias de bicicletas.
Os habitantes de Christiania decidiram
correr o risco de andar na contra-mão da história. Para eles, o governo,
seja lá qual for, e seus mecanismos de administração pública são
sinônimos de burocracia, abuso de poder e corrupção.
Vivendo sem a necessidade de leis que
controlem a organização social, cada morador da cidade livre tem que
fazer sua parte enquanto cidadão e confiar que todos farão o mesmo. É
uma nova ética de convivência, baseada na honestidade e na
solidariedade.
Em 23 anos de existência, a cidade-livre
sempre esteve associada a rebelião contra a ordem estabelecida e
experimentando novos meios de democracia e formas de autogestão da
administração pública. Christiania se organiza em vários conselhos, onde
todos os moradores têm direito a opinar e discutir os problemas
comunitários. As decisões não são feitas por votação, mas sim através do
consenso. Isso significa que não é a maioria que decide e sim que todos
tem que estar de acordo com as decisões tomadas nas reuniões. Às vezes,
contam-se os votos somente para se ter uma idéia mais clara das
opiniões, mas essas votações não tem nenhum significado deliberativo,
não contam como uma solução para os problemas da comunidade. Christiania
é dividida em 12 áreas, cada uma administrada pelos seus moradores,
para facilitar o funcionamento dos serviços básicos. As decisões tomadas
sempre por consenso podem parecer difíceis para nós, brasileiros
acostumados ao poder da maioria sobre a minoria (pelo menos, é assim que
se justificam os defensores das eleições).
Mas para os habitantes da cidade-livre, o
consenso só é impossível quando existe autoritarismo, quando alguém
tenta impor uma opinião sem dar abertura para que outras idéias apareçam
e até prevaleçam como melhor solução. A experiência tem ensinado aos
moradores de Christiania que cada reunião deve discutir só um assunto,
principalmente na Reunião Comum, que decide sobre os problemas mais
importantes da comunidade. E, contrariando o pessimismo dos que não
conseguem imaginar uma vida sem governo institucional, a utopia está
dando certo: a vida comunitária de Christiania preserva a liberdade
individual e constrói uma eficiente dinâmica de relacionamento social,
livre do autoritarismo e da submissão. A cidade-livre vive o anarquismo
aqui e agora.

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